quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Uma capela perdida no tempo

O primeiro post de 2015 pretende trazer um lugar inusitado e até pouco conhecido dos moradores de São Caetano: a Capela Santo Antonio. Neste texto, escrito pela historiadora e pesquisadora da Fundação Pró-Memória Priscila Gorzoni, saiba onde ela se localiza e conheça a sua história.

Boa leitura!



Uma capela perdida no tempo

Quem caminha tranquilamente pela Avenida Senador Roberto Simonsen, em direção à Avenida Goiás, se surpreende ao cruzar com uma rua chamada Constituição. Bem no meio dela, nos deparamos com uma pequena capela azul, tímida e misteriosa, a Capela Santo Antonio, localizada no bairro de mesmo nome.

Apesar de pequeno e escondido, este é um local interessante. As paredes são de azulejos bem azuis, o que faz um belo contraste com os portões brancos. Apesar da simplicidade, ela se destaca das casas em sua volta. É uma construção que ficou no tempo, na história de São Caetano do Sul. Como uma foto em preto e branco que fala por si só...

A ‘verdadeira’ Capela Santo Antonio foi construída em 1924 por Ricardo Mariani Molinaro, e ficava na antiga Rua Santo Antônio, atual Avenida Senador Roberto Simonsen. Ela foi demolida e reconstruída em 1960, no atual endereço.

Esse é sem dúvida um dos pontos mais interessantes e importantes para se visitar na cidade. Assim como a Santo Antônio, em todo o Grande ABC surgiram várias capelas em devoção a diversos santos, mas ele parece ter sido o privilegiado. Os antigos moradores explicam essa predileção de uma maneira inusitada. Diziam que as famílias assentadas no Núcleo Colonial confundiram, em principio, a imagem de São Caetano, existente na primitiva capela local, com a de Santo Antônio, porque eram muito semelhantes e ambas carregavam o Menino Jesus nos braços.

A Capela Santo Antonio foi construída pela família de João Molinari em retribuição a um milagre. Contam que no verão de 1919 desabou um temporal em São Caetano e a família colocou-se a rezar em torno do oratório que guardava um Santo Antônio trazido de Modena, na Itália, em 1885. Nesse momento, uma faísca afetou o telhado e atingiu o oratório, sem causar danos maiores, deixando a imagem do santo ilesa e, inclusive, mantendo as suas velas acessas.

Assustados com o milagre, a família construiu uma capelinha e sobre a porta de ferro colocou uma placa de mármore com os seguintes dizeres: “Capela Sant Antonio, Ricordo di Mariana Molinari - 1924”. O local continua preservado e até hoje abriga a imagem centenária.

Curiosidade - Os Molinari vieram da Itália para São Paulo e, em 1894, mudaram-se para São Caetano, onde passaram a morar no Bairro Cerâmica. A primeira atividade dos Molinari foi cultivar a terra para construir sua casa de madeira roliça e portas improvisadas de caixões, na Rua Projetada, que depois ganhou o nome de Santo Antônio, em função da Capela Santo Antônio. Os primeiros Molinari eram Giovanni Molinari e sua mulher, Mariana Nery Molinari.

Aqui, eles foram recebidos pelos Cavana, que viviam em uma colônia, então localizada no cruzamento da Avenida Senador Roberto Simonsen com a Rua Baraldi. Os Molinari e os Cavana tornaram-se grandes amigos e seus filhos até se casaram. Nos negócios, se fixaram no Bairro Cerâmica e abriram uma fábrica de colchão chamada Giovanni Molinari & Figli.  

Outra atividade que a família desenvolveu foi o beneficiamento de caulim. O produto era extraído na Vila Nossa Senhora das Mercês. Eles arrendavam as terras, venciam a mata virgem, andavam de carros de boi até chegar à cava. Carroças e carroções retornavam com caulim até a Estação São Caetano, de onde o produto era enviado aos compradores.

Referências bibliográficas:
Antônio, santo dos italianos, dos portugueses... e de todo mundo, Valdenízio Petrolli, Revista Raízes 13.
Era uma vez... (crônica de uma época), Jayme da Costa Patrão, Revista Raízes 4.
Migração e Urbanização: a presença de São Caetano na região do ABC, Ademir Medici.