Desejamos a todos boa leitura!
Andanças pela
última morada
Percorrer
os cemitérios das cidades é, sem dúvida, uma das formas de conhecer a alma,
pensamento, visão de vida e histórias de uma comunidade. É nos mortos que os
vivos refletem o que pensam e como desejam ser vistos. É nos cemitérios das
cidades que encontramos alguns personagens marcantes, enigmáticos e históricos.
Representantes de um tempo que ficou para trás, mas que ainda deixa ecos no
mundo dos vivos.
O
nascimento e a morte são as duas mudanças fundamentais que ocorrem com o ser
humano. Depois da morte, o corpo é objeto de vários rituais, que acompanham as
representações que cada indivíduo tem em vida. Duas atitudes opostas se
destacam no rituais fúnebres: o aniquilamento total do corpo ou sua conservação
a qualquer preço.
Em todas as culturas, a comunicação entre os
dois mundos é mantida por meio dos recursos materiais, como tumbas, efígies,
estátuas, retratos, cemitérios, caixões, entre outros. Essas formas de se comunicar
também variam de uma comunidade para outra. Por isso, uma das maneiras de entender
como os nossos ancestrais concebiam o mundo é descobrir como tratavam seus
mortos.
Foi
para compreender um pouco mais a mentalidade dos antigos moradores de São
Caetano que, em uma manhã comum de inverno, parti para o Cemitério São Caetano,
conhecido como Cemitério Santa Paula, o primeiro da cidade.
Quem
chega a esse local vê ao longe os túmulos suntuosos, grandiosos e belos. Lá
estão enterrados personagens famosos da cidade, como Ângelo Raphael Pellegrino,
Hermógenes Walter Braido, Oswaldo Samuel Massei, Anacleto Campanella, João
Dal´Mas e o curandeiro Vicente.
Antes
do Cemitério São Caetano, os moradores passavam momentos de angústias para
enterrar seus mortos. Nos primeiros tempos, os corpos eram jogados em valas
pelas estradas. Depois, passaram a ser enterrados em São Paulo e,
posteriormente, em São Bernardo do Campo.
Com
esse problema em vista, foi sugerida a construção de um cemitério na cidade e
assinada uma lei, em 1911, que abria crédito extraordinário para essa
finalidade. A vontade da população foi ouvida e o cemitério se tornou realidade.
O
terreno usado para a construção foi doado pela família Garcia, que aceitou
fazer a doação já que possuía muitas terras no bairro. Era uma área tipicamente
rural, situada ao lado da estrada que seguia de São Caetano para a Estação de
São Bernardo (hoje Santo André).
Foi
com a construção do Cemitério São Caetano que a paisagem da cidade começou a
mudar, de rural ganhou ares mais urbanos. Em torno do cemitério, surgiram várias
casas, bares e armazéns.
O
ritual da morte dos primeiros moradores de São Caetano era bem diferente do
atual. O falecimento de uma pessoa era, em poucas horas, do conhecimento de
quase toda a população. E a preparação do defunto era feita pelos próprios
familiares.
No
local do velório, realizado na casa da família do morto, eram colocadas faixas
pretas nas janelas e portas para noticiar o falecimento. O transporte do defunto
para o cemitério era organizado: caminhava-se em filas de par, meninos e meninas
carregavam ramalhetes de flores que eram oferecidos aos demais. Os caixões eram
todos do mesmo formato, retangular, sem detalhes e modestamente forrados. Os dos
homens eram de cor preta, com aplicações de galões dourados.
Durante
o luto, a sociedade não via com bons olhos a presença dos enlutados em bailes,
festas, cinemas ou qualquer divertimento, mesmo em celebrações familiares, por
considerar aquela atitude um desrespeito ao falecido.
Referências
bibliográficas:
Do velório ao
sepultamento,
de Henry Veronese (Revista Raízes 13).
História e arte
no cemitério da Consolação, de José de Souza Martins.
Nostalgia, de Manoel
Cláudio Novaes, Editora Meca.