quarta-feira, 29 de maio de 2013

Confira opções de lazer para o feriado em São Paulo

Não há motivo para se chatear se você não for viajar no feriado de Corpus Christi. Esta é uma ótima oportunidade para curtir as opções culturais de São Paulo com conforto, sem trânsito e filas. Ou seja, o sonho de todo paulistano.

Abaixo separamos dez alternativas de lazer para os próximos quatro dias. Se você tiver uma ideia legal, nos escreva. A intenção é que este post seja complementado com as dicas dos leitores.

Corteo – O espetáculo da trupe canadense Cirque du Soleil, criado em 2005, atualmente está em turnê no Brasil (serão visitadas seis cidades no total). Esta é uma das grandes atrações de São Paulo para o feriado. O show ficará até 14 de julho no Parque Villa-Lobos
Mais informações: http://corteobrasil.com.br/

Rei Leão – Em cartaz no Teatro Renault, o musical, baseado no desenho produzido pela Disney, já foi visto por quase 65 milhões de espectadores em todo o mundo e é ganhador de 70 prêmios.

Cai Guo–Qiang – Da Vincis do Povo (Peasant da Vincis) - Internacionalmente reconhecido, o artista Cai Guo–Qiang apresenta sua primeira exposição individual no Brasil. Entre os trabalhos expostos no Centro Cultural Banco do Brasil estão desenhos feitos com pólvora. A exposição segue até o dia 23 de junho. Há também uma mostra de cinema rolando no local.

Comedians - Com menos de um ano de existência, a casa já se tornou ponto de referência para a comédia de stand-up. Haverá apresentações nos quatro dias do feriado.
Mais informações: www.comedians.com.br

Sala São Paulo – Haverá ensaios e concertos durante o Corpus Christi. A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo tocará sob a regência da maestrina mexicana Alondra de la Parra, e contará com a participação da soprano Carmen Monarcha.

Masp – Amanhã (30), sexta (31) e sábado (01 de junho), o público poderá ter acesso a todas as exposições em cartaz no Masp (Museu de Arte de São Paulo). Chama atenção a “SÉRIES BÍBLICA E RETIRANTES”, com 11 obras de Candido Portinari.

Se Beber Não Case – Parte 3 – Entre os lançamentos do cinema deste final de semana está “Se Beber Não Case – Parte 3”. A première do longa, que contou com a presença dos principais atores, ocorreu na noite de ontem, no Cine Odeon, no centro do Rio de Janeiro.

Alô, Dolly! - Outro espetáculo que está em alta em São Paulo e que é uma ótima pedida para este feriado é o “Alô, Dolly!”. No elenco estão Miguel Falabella e Marília Pêra. A peça é encenada no Teatro Bradesco, localizado no Bourbon Shopping.

MAM – Opção cultural para os próximos quatro dias é o Museu de Arte Moderna, que traz as exposições “Alex Vallauri: São Paulo e Nova York como Suporte”, “Lady Warhol” e “Rodrigo Oliveira – Boa Vizinhança”. O restaurante também ficará aberto durante o feriado.
Mais informações: http://www.mam.org.br/

Parada Gay – Marcada para o domingo (2 de junho), a Parada do Orgulho Gay promete ser a principal atração da cidade neste dia.  Quatro milhões de pessoas são esperadas pela organização do evento.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Uma outra realidade

Neste post, a Fundação Pró-Memória apresenta o texto de Eliane Mimesse sobre a realidade das crianças em São Caetano do Sul no século XIX. Esperamos que aproveitem a leitura!!

Lembrando que textos voltados à memória e à arte não só de São Caetano, mas também das demais cidades do Grande ABC e de São Paulo, podem ser enviados para o email jornalismo@fpm.org.br. A Fundação aceitará qualquer tipo de texto - crônica, artigo, reportagem. Não há um número mínimo ou máximo de caracteres.


A dura sobrevivência das crianças no núcleo colonial de São Caetano

Profª Dra. Eliane Mimesse*

*É autora do livro “A Educação e os Imigrantes Italianos: da escola de primeiras letras ao grupo escolar”, da Editora Fundação Pró-Memória.

As crianças que viveram no núcleo colonial de São Caetano do Sul, nas últimas décadas do século XIX, tiveram suas vidas sempre acompanhadas pelos altos índices de mortalidade infantil. Era corriqueira também a contratação das amas de leite (mães que perderam seus filhos e podiam amamentar outras crianças que conviviam com doenças e mortalidade). Não era raro que essas mulheres tivessem perdido um ou mais filhos no nascimento ou antes deles completarem um ano de idade.

Giacomo Garbelotto, um dos antigos colonos de São Caetano, enfatizou essa situação em uma carta para um amigo, datada em 14 de fevereiro de 1889, na qual escreveu: “Sem poder encontrar trabalho e com a perda dos próprios filhos, de sete e oito anos, (...) estou aqui com Giacomo Dal Cin, que tem a filha doente e uma morreu e a mulher está bem e te saúda”.

Nessa época, a causa das mortes era devida às moléstias mais comuns como febre tifóide, malária, febre amarela, varíola e coqueluche. Muitas das crianças morriam e os pais nem sabiam qual era o motivo real, pois não existiam médicos residentes na localidade de São Caetano. Em alguns dos depoimentos analisados, verificou-se que as causas das mortes eram as mais diversas. Temos como exemplo o acontecido com o irmão mais velho de dona Joana Fiorotti Zanini, que morreu depois de levar um coice de um burro na cabeça. Há ainda o caso de dona Irene Marques Biagi que contraiu uma doença, que poderia ser pneumonia, pouco antes da viagem de vinda da família para o Brasil. Nesse mesmo depoimento, ela relata que seu irmão faleceu com sarampo, após terem se instalado no país há uma semana.   

Encontraram-se vários relatos descrevendo que as famílias eram numerosas. Nesse sentido, a inexistência da assistência médica institucionalizada em São Caetano contribuía para o aumento das taxas de mortalidade e de moléstias. Algumas pessoas assumiram as funções de benzedeiros e de parteiras. Essas últimas eram senhoras que ajudavam mulheres durante o nascimento do bebê, e faziam o possível para que a mãe e a criança sobrevivessem.

Em São Caetano, nessa época, não havia nenhuma parteira. As mulheres que tinham condições de saúde para se locomover iam até a casa da parteira que ficava do outro lado do Rio Tamanduateí, em São Paulo. Ou então ela era chamada e trazida de charrete para fazer o parto. Segundo dona Joana Fiorotti Zanini, sua mãe “foi na casa da parteira, que tinha um quarto de propósito para as mulheres conhecidas”.

A morte prematura de filhos recém-nascidos possibilitava que essas mães assumissem um novo tipo de trabalho, considerado relevante para a sociedade da época: o de amas de leite. A prática de amamentar os filhos dos mais abastados existia no Brasil desde os primeiros tempos da colonização portuguesa. As escravas africanas adotavam a função de amas de leite para assim alimentarem os filhos das famílias brancas, e, consequentemente, acabavam prejudicando o aleitamento de seus próprios filhos. Prevaleciam críticas a esta postura feminina da elite, pois as italianas, assim como as escravas africanas, eram consideradas saudáveis a tal ponto de poderem assumir o mesmo posto da mãe no quesito da amamentação. Dona Joana relata que sua “mãe foi ama de leite quando um filho dela morreu [....] Não sei se ele nasceu morto ou se morreu em seguida. Sei que ela tinha muito leite. E, naquele tempo, os ricos não amamentavam os filhos, pois tinham uma ama em casa”.

Como a alta taxa de mortalidade infantil fazia parte do cotidiano, existiam padrões de comportamento aceitos e seguidos por todos. Por conta desse índice, não havia uma preocupação ampla por parte das famílias com o imediato registro oficial dos nascimentos. As crianças eram batizadas na Igreja de São Caetano e quando o pai da família tivesse tempo disponível, se deslocaria até o Tabelionato, localizado na cidade de São Paulo, para registrá-las. Essa ação poderia ocorrer no mês seguinte ou anos depois.

No entanto, os nomes das crianças batizadas e consequentemente registradas no livro de batismos da Igreja de São Caetano nem sempre eram os mesmos nomes pelos quais eram registradas no Tabelionato de Registro Civil. Foi o que ocorreu com o senhor Verino Segundo Ferrari, que somente soube que o seu nome era Verino ao solicitar a certidão de nascimento para se alistar no serviço militar. Nesse caso, o tempo entre o seu nascimento e o registro no órgão oficial foi quase que de imediato, mas o nome da criança registrada no tabelionato era diferente do nome do registro de batismo na igreja. O uso de ‘Segundo’ indicava que existiu outra pessoa na família com esse nome. No caso de Verino, era um tio. Desse modo, ele era o segundo de uma mesma família a adotá-lo.

Esse assunto nos remete também a refletir sobre a inabilidade dos funcionários dos tabelionatos na época. Grande parcela dos equívocos nas grafias com relação a nomes e sobrenomes estrangeiros ocorria pela má compreensão na pronúncia dos imigrantes. Os funcionários de registro civil não sabiam como escrevê-los corretamente, sendo que, muitas vezes, pela dificuldade do idioma, acabavam por registrar denominações que consideravam corretas, ou mesmo com uma ordenação equivocada, escrevendo o sobrenome como se fosse nome e vice-versa.

Mas, para contribuir com essa complexidade dos registros de nascimentos, é necessário explicar que, nessa época, em algumas regiões da Europa, o comum era se escrever primeiro o sobrenome e depois o nome na assinatura de quaisquer documentos.

A importância do sobrenome era expressar a linhagem de uma determinada família, remontar sua origem e vincular o indivíduo a localidades ou regiões. Como exemplo para essa situação temos a listagem com a relação de moradores de São Caetano que assinaram, em 1883, um abaixo-assinado. Algumas das 41 assinaturas estão aqui reproduzidas: “Braido, Giuseppi; Garbeloto, Antonio; Baraldi, Primo Secondo; Visentin, Pietro; Roveri, Filippo; De Nardi, Celeste”.

Pode-se ressaltar ainda que, muitas vezes, as crianças recém-nascidas eram batizadas na igreja e registradas no tabelionato apenas para não morrerem sem os sacramentos.

Vemos que os problemas com as crianças eram diversos: alto índice de mortalidade infantil, inúmeras doenças, além dos problemas com seus nomes e sobrenomes. Mas, apesar de todos esses acontecimentos, muitas delas sobreviveram, tornaram-se adultos e em suas memórias ainda guardam o cotidiano da época. 

terça-feira, 21 de maio de 2013

Para ler, respirar e se divertir


Escrever exercitando o livre arbítrio e a imaginação, tudo misturado e temperado com humor, suspense e nonsense, como pode acontecer nos livros. Foi assim que desenvolvi a instalação e o texto abaixo para o projeto Letras da Imaginação, da Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul, em parceria com Biblioteca Paul Harris, Academia de Letras da Grande São Paulo e Academia Popular de Letras. Ao entrar no prédio da entidade, o visitante encontra no hall uma grande cascata de livros, dois displays em forma de roupas confeccionadas com livros, ao lado dos livros-relicários e livro do artista, criados por Renato Brancatelli e Regis Ribeiro, respectivamente. Agora, antes começar, preste atenção na sua respiração... inspire.... expire... Boa leitura!

dixitque Deus: ‘fiat lux!’ et lux facta est.

João Alberto Tessarini*

publicitário da área de criação, redator e designer gráfico. Artista plástico, desenhista, escultor, gravador, com participação em exposições coletivas e individuais. Criador do Hib, o pássaro com dois corações, anfitrião do Ateliê Pedagógico da Pinacoteca Municipal de São Caetano do Sul.

Há muito tempo, numa galáxia distante... Nada menos original para começar esse texto, nada mais forte para contextualizar o que virá e que vai abalar a história da humanidade como a conhecemos hoje. Mas vamos lá, não tema, leia. Leia bem devagar: b  i   b   l   i   ó   f   i   l   o. Agora, feche os olhos e preste atenção na sua respiração, acompanhe o ar entrando e saindo dos seus pulmões.........inspire............expire...........faça isso durante dez segundos. (.......................................................) Fez? Não!? Por favor, não é brincadeira, é importante! Antes de continuar a leitura, faça esse exercício. ( ........................................) Fez? Ótimo. Agora podemos continuar. Leia bem devagar: b i  b   l   i   ó   f   i   l   o. No dicionário você encontra a seguinte definição: pessoa que tem amor aos livros – colecionador de livros.
Essa instalação – uma grande cascata de livros e displays em forma de roupas confeccionadas com livros que continuam expostos no hall da Fundação Pró-Memória - foi pensada para comemorarmos o “Dia Internacional do Livro”, oportunidade para fazermos uma reflexão sobre o nosso protagonismo desde o Jardim do Éden, registrado em prosa e verso, uma saga que tem gerado justamente os livros, em número impossível de precisar, e homenagear os “humanuslerolerum” que já estão entre nós há muitos séculos, comunicando-se através dos livros e de outras plataformas e que hora dessas podem fazer um contato imediato de primeiro grau, uma grande celebração. Primeiro o olho no olho, em seguida, e eu acredito nisso, um grande e caloroso abraço. Desse abraço para o grande salto quântico da humanidade. Exagero? Ficção científica? Conto, romance ou um haikai do Mário Quintana: “Em meio à ossaria uma caveira piscava-me. Havia um vagalume dentro dela.”
Com certeza você já teve um livro nas mãos, independente de ser um bibliófilo. Com certeza já necessitou saber o significado de uma palavra. Gosto muito de dicionários: cas.ca.ta / sf (ital cascata) 1 Queda de água, natural ou artificial, que se precipita de pequena ou grande altura. 2Eletr Arranjo das partes de um circuito ou elementos em um circuito, de modo que a corrente toda passe através de cada parte ou elemento sem divisão ou ramificação. 3gír Parolagem, bazófia, conversa-fiada. Conto da cascata, gíria entre ladrões, certo tipo de vigarice. (dicionário Michaelis).
dixitque Deus: ‘fiat lux!’ et lux facta est. E Deus disse: “faça-se a luz!” e a luz foi feita (Gênesis 1). Como estou escrevendo com o livre arbítrio concedido, portanto, posso especular sobre a cena do Fiat Luxe e correr o risco de escrever que foi assim – No começo existia Deus, que sempre existiu, em um grande lugar escuro como breu e nessa escuridão um casal nu. Daí, Deus que, entre outros poderes, enxerga no escuro disse, olhando para o casal: 'Faça-se a luz'. E a luz se fez. O casal entreolhou-se do Caburaí ao Chuí e não entendeu nada. Era o começo dessa nossa deficiência de olhar e não enxergar as coisas. O casal, que já tinha na gênese do seu DNA a curiosidade, voltou a se olhar e, em seguida, esmiuçar o entorno onde chamou a atenção uma sedutora maçã, que eu esqueci de dizer que já estava na cena ainda sem a luz. Assim como já estavam outros animais, plantas, minerais e todas as possibilidades para todas as invenções que viriam. Depois de deslumbrarem tudo, bateu aquela sensação de fome e os dois instintivamente se engalfinharam, rolaram pelo chão e ao mesmo tempo agarraram a maçã e deram a primeira mordida do Universo, assim como a conhecemos. Então, Deus ponderou que o casal deveria ter um norte além de comer as maçãs que viriam e determinou que eles fossem até a super, hiper, megabiblioteca, Paradise Books, e vestissem uma das roupas mágicas, aquelas confeccionadas com livros, que isso abriria todas as portas e janelas do Paraíso para que a luz, em todo o seu esplendor, iluminasse aquele lugar que foi criado para eles. Um lugar para curtir e compartilhar diferenças culturais, uma antropofagia das ideias. Tudo era muito perto no Paraíso, disso surgiu a inspiração para um livro famoso intitulado “Longe é um lugar que não existe”, escrito por Richard Bach. Voltando um pouco, tudo era muito perto da estação Paraíso do Metrô, foi subir via escada rolante, atravessar a rua e entrar na biblioteca que não fechava nunca, e o casal primordial escolheu suas vestimentas poderosas entre milhares de prateleiras onde também encontravam-se papiros egípcios, tabuletas cuneiformes dos sumérios, os clichês e os tipos móveis do Gutenberg, gibis com os super-heróis, contos de fadas, sinopses de obras em aberto, como a Bíblia e o Alcorão, para quem quisesse escrever algum capítulo inspirado diretamente por Deus, e uma prateleira com iluminação diferenciada, onde acima dos livros expostos via-se uma placa de madeira, letras entalhadas em baixo relevo, com a seguinte inscrição: Livros que serão queimados na Idade Média e outras. Enfim, objetos sagrados à disposição de todos para o exercício da organização dos pensamentos. 
Jean-Philippe de Tonnac, no livro “Não contem com o fim do livro”, escrito por Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, cita Fernando Bez que, por sua vez, cita em sua História da destruição dos livros João Crosóstomo evocando algumas pessoas, no século IV, que carregavam em volta do pescoço velhos manuscritos para se protegerem do poder do mal.
Mesmo correndo o risco de ser queimado em alguma fogueira, afirmo que somos os tipos móveis do Johannes Gutemberg. Juntos, temos criado, formado palavras para expressarem nossa natureza como “artesãos do oitavo dia” (expressão cunhada pelo filósofo Hubert Reeves com livro de mesmo nome) Somos múltiplos, nascemos para compartilhar e curtir nossa natureza divina. Penso que, usar a expressão natureza divina é apropriado diante da constatação da nossa pequenez em relação a grandeza do Universo. Paradoxo? Não quando entendemos que somos partícula, uno, verso. Reafirmando o nosso protagonismo dentro de uma história tão grande, com a necessidade de tantas palavras, e baseado nas comprovações científicas do uso de extensões, como próteses e ferramentas (leia o livro "Muito além do nosso eu", do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis), é que ouso convidar você a perceber-se em constante e infinito movimento de expansão e recolhimento. De novo, cinco segundos, inspire...... expire. Somos não só a humanidade, somos os animais, os minerais, os fenômenos meteorológicos, as alegrias e tristezas, o iPad, o cristal líquido, os automóveis, a nanotecnologia, os roteiros das viagens, o balanço no quintal, o movimento do balanço, o lago onde mergulhamos e a água que bebemos, o chão que pisamos, somos aquele pó da frase famosa (Gênesis 3.19), etc, etc (Et cetera também et cætera - et cet·er·a neutro plural), de forma reduzida etc., é a expressão de origem latina que significa "e os restantes" ou "e outras coisas mais". É normalmente utilizada no final de uma frase para representar a continuação lógica de uma série ou enumeração – fonte: Wikipédia, a polêmica enciclopédia eletrônica). Somos os livros que escrevemos e lemos. Por isso, assim como Umberto Eco e Jean-Claude Carrière disseram em “Não contem com o fim do livro”, eu digo, respondendo à questão colocada no início desse texto, um dia, por entendimento, por amor à tudo que significa a nossa existência, independente dessa ou daquela plataforma para a nossa expressão, ou até da não necessidade de próteses e ferramentas para isso, acrescentaremos à nossa denominação homo sapiens o sentido da palavra bibliófilo. Só não sei se antes ou depois.
Já que estou escrevendo, deixa experimentar: homo sapiens bibliófilo..... bibliófilo homo sapiens. É, não sei. Só sei que preciso citar novamente o general romano Pompeu (em 70 a.C.) que inspirou o português Fernando Pessoa: Navigarenecesse, vivere non necesse. Navegar é preciso, viver não é preciso. Consciente da minha ignorância inata, que é força propulsora, necessito continuamente experimentar das muitas artes, entre elas ler e escrever, inspirar e expirar. Tchau, arrivederci. Grande e caloroso abraço.

Notas importantes:
A -Humanuslerolerum -homo sapiens grafado em contração e pleno em sabedoria= humanus / lero= pensar / lerum= falar, ou seja, criatura em liberdade, plena em sabedoria, que pensa e fala. 
B - O menino que habita em mim vai reler a História sem fim do Michael Ende.
C - “ Como é belo um livro, que foi pensado para ser tomado nas mãos, até na cama, até num barco, até onde não existam tomadas elétricas, até onde e quando qualquer bateria se descarregou. Suporta marcadores e cantos dobrados, e pode ser derrubado no chão ou abandonado sobre peito ou joelhos quando caímos no sono”. Depois de ler essa frase de autoria do Umberto Eco, entalhada na parede principal da lanchonete da biblioteca, o casal do Paraíso, ambos nascidos no mês de Dezembro, portanto sob o signo de Capricórnio, e tudo indicando serem do Segundo Decanato, como eu, não resistindo que estavam dentro da biblioteca, foram até a prateleira dos jornais e no ESTADÃO de 18 de abril de 2013 leram as reflexões horoscopistas do bruxo Quiroga: “Dizer as palavras certas é o que todo mundo quer. É a esperança de a alma ser tão sedutora que as suas palavras se transformam em energias irresistíveis. Isto é completamente possível, mas é raro acontecer.” Ele disse “raro”, então inspire..... expire... é importante que você tome posse de toda a sua natureza, agora, aceite o meu convite e vamos em busca desse Santo Graal.
AnnoDomini 2013 – escreveu: João Alberto Tessarini


Crédito da foto: Priscila Tessarini

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A outra face de Anita

Entrou em cartaz no dia 6 de abril a exposição ANITA – Gravadora na Pinacoteca Municipal, uma parceria da Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul com o Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.


É com grande prazer que a Fundação abriga esta mostra, que traz um lado pouco conhecido de Anita Malfatti, artista que teve lugar de destaque na vanguarda da arte brasileira e na cultura da Modernidade.


Suas pinturas já são reconhecidas como obras de arte em todo o mundo, mas agora queremos trazer ao público suas gravuras. Para complementar o trabalho desenvolvido na Pinacoteca, a Fundação preparou algumas atividades paralelas, entre elas encontros com professores e a palestra Anita Malfatti - Caminhos da Modernidade, que será realizada hoje (16), às 19h, na sede da entidade (Av. Dr. Augusto de Toledo, n° 255, Bairro Santa Paula, São Caetano do Sul). Ela será ministrada pela historiadora da Fundação Pró-Memória Mariana Zenaro.


Para aqueles que já foram visitar a exposição, que pretendem conhecê-la ou ainda querem obter mais informações desta grande pintora, a Pró-Memória convida a ler, refletir e comentar o texto abaixo, escrito por Marta Rossetti Batista e Ana Paula Felicissimo de Camargo Lima, que fizeram parte do projeto de recuperação das matrizes de Anita Malfatti.

 

Anita Malfatti gravadora - uma recuperação

 

Marta Rossetti Batista e Ana Paula Felicissimo de Camargo Lima, responsáveis pelo projeto

 

Marco inicial do movimento modernista, com sua polêmica exposição de 1917/18 em São Paulo, a pintora Anita Malfatti (1889-1964) é sobejamente reconhecida por aquela produção pioneira, em especial as telas então apresentadas e novamente exibidas na Semana de Arte Moderna de 1922. Obras como A estudante russa, O japonês e O homem amarelo, realizadas em 1915/16 e adquiridas anos depois por seu amigo e incentivador Mário de Andrade. O escritor colecionou ainda outras obras da artista, entre elas seu retrato e o autorretrato de Anita, testemunhos da convivência de ambos em 1922. Estes trabalhos introduzem a presente exposição, dedicada a outro aspecto da obra de Anita Malfatti menos divulgado, a gravura. Aliás, o colecionador Mário de Andrade também esteve atento a este aspecto, pois guardou uma gravura da artista, Moça sentada (perfil), provavelmente realizada na Alemanha (1911/13). Obra que lembra de imediato a atuação de Anita Malfatti como gravadora nos anos 10 do século XX, com peças expostas em São Paulo nas mostras históricas de 1917/18 e de 1922. Uma produção, portanto, também pioneira, que merece ser recuperada. Seriam as primeiras gravuras modernas executadas por um artista brasileiro.

São raras as informações sobre seu aprendizado na arte da gravura, e mesmo sobre o total de seus trabalhos, possivelmente não muito numerosos. Sabe-se que iniciou seu estudo em Berlim, entre 1911 e 1913, e dedicou-se à gravação em metal. Ao retornar, apresentou sua produção numa primeira exposição individual em São Paulo, em maio/junho de 1914. Dos 33 itens listados no catálogo, um bloco se referia às águas-fortes (8 títulos) tendo como tema retratos e paisagens. Alguns retratos, hoje identificados, mostram trabalhos sensíveis e delicados, além da experimentação com algumas técnicas. Em Nova York, continuou a gravar, tendo aulas na Art Students League em 1915 e 1916. Vários destes trabalhos participaram da exposição individual de 1917/18 em São Paulo. Das 53 entradas do catálogo, 11 eram gravuras, especificadas pela artista como ponta-seca, água-forte, ou água-tinta, duas delas coloridas. Uma ou duas vinham da fase anterior e outras duas, pelo título, teriam sido realizadas já no Brasil. Na Semana de Arte Moderna de 1922, no resumo-homenagem dos modernistas à individual de 1917/18, Anita teria reapresentado possivelmente duas gravuras da mostra histórica (embora não haja especificação sobre as técnicas no catálogo).

Após os estágios na Alemanha e nos Estados Unidos, há indícios, como o apontado, de que por um tempo Anita Malfatti continuou a gravar, ainda que esporadicamente. Vendeu uma ou outra cópia nas individuais, deu algumas de presente. Não contava, entretanto, com um possível mercado para seus trabalhos. Talvez por essa e outras razões tenha deixado a arte da gravura, não realizando nem mesmo as tiragens habituais de suas matrizes. São conhecidos raros exemplares de algumas gravuras; sabe-se de outras, relacionadas nas exposições, nunca localizadas. Assim, o Instituto de Estudos Brasileiros sente-se honrado em poder recuperar e divulgar parte dessa atividade pioneira, através da presente exposição.

Esta recuperação parcial tornou-se possível graças à doação da família Malfatti ao IEB-USP, nas comemorações do centenário de nascimento da artista, em 1989. A doação incluiu o arquivo pessoal da pintora (fotos, documentos, manuscritos, catálogos, cartas, recortes), cadernos de desenho de vários períodos e, ainda, matrizes de gravura localizadas anos depois do falecimento de Anita Malfatti. Sobreviveram 22 placas de metal (cobre, zinco, latão e alumínio), uma sem gravação, outras com incisões frente e verso, correspondendo a 20 obras. Na maioria, trabalhos monocromáticos, placas de pequena dimensão, revelando texturas e linhas profundamente marcadas, e retratos simplesmente definidos em linhas incisas. Recuperaram imagens gravadas na Alemanha, nos Estados Unidos e no Brasil. Algumas já são conhecidas, através de exemplares originais realizados pela artista, já localizados. Uma devolve ao público a obra exposta na individual de 1914, reconhecível em fotografia da mostra (O colega, 1911/13); duas dão indícios sobre possíveis peças expostas em 1917/18 e 1922. Outras revelaram imagens até então desconhecidas. Quatro delas ainda levantam questões e pedem maior estudo.

Visando a recuperação, o estudo e a divulgação dessas obras constantes nas matrizes preservadas, o Instituto de Estudos Brasileiros realizou uma primeira etapa, de pesquisa, catalogação e recuperação do material calcográfico, trabalho realizado em 1996/97 por Ana Paula Felicíssimo de Camargo Lima (Bolsa de Artes VITAE), contando com a assessoria e experiência de Carlos Martins e o exemplo de profissionais e museus que realizaram trabalhos semelhantes. As placas apresentavam oxidações, algumas atenuadas; outras permaneceram, pois se manteve como diretriz primeira respeitar e preservar os traços, as escolhas e a intenção da artista.

O resultado possibilitou esta segunda etapa, a impressão póstuma documental, exemplar que permite o estudo de cada uma das imagens gravadas, complementando as matrizes da Coleção Anita Malfatti no IEB-USP. A presente exposição apresenta pela primeira vez essas imagens recuperadas, em uma impressão documental museológica, na qual, como foi dito, insinuam-se marcas da passagem do tempo, manchas ou sinais devidos às alterações do metal no decorrer dos cerca de 90 anos, que medeiam a incisão das placas realizada por Anita Malfatti e esta impressão no ano de 2005.

A exposição apresenta ainda documentos do arquivo da artista, relacionados com as gravuras. Entre os cadernos de desenho doados, um em especial fornece dados sobre a gravadora na época em que esteve nos Estados Unidos, com anotações de aulas e esboços de gravuras.

Nesta segunda etapa ocorre, ainda, a primeira tiragem póstuma de gravura de Anita Malfatti, realizada com a autorização da família e dentro dos parâmetros de salvaguarda já indicados. A tiragem segue o exemplo do modo como gabinetes de gravura de vários países e museus brasileiros vêm processando e divulgando seus acervos de matrizes.

O projeto contou com o suporte da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, assim como o apoio da Direção e demais setores do IEB-USP, da família da pintora e de profissionais e instituições consultados ao longo do trabalho, a quem agradecemos.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Amparo ao migrante nordestino em São Caetano


É com grande satisfação que compartilho com vocês uma parte das reflexões e discussões feitas em minha pesquisa de mestrado, defendida em maio do ano passado, junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Tais discussões foram publicadas na 71ª edição da Revista Travessia, uma publicação tradicional do Centro de Estudos Migratórios.

Este blog, que endossa o compromisso da Fundação Pró-Memória para com os assuntos relativos ao patrimônio histórico local, é, sem dúvida, uma conquista não só da instituição, mas, principalmente, da sociedade, que, por meio dele, poderá colaborar com textos e usufruir das ideias aqui partilhadas. Que esta importante ferramenta virtual nos auxilie na divulgação de vestígios e rastros deixados pela história!    
    
Sociedade Beneficente Brasil Unido
Entidade de amparo ao migrante nordestino em São Caetano do Sul

Cristina Toledo de Carvalho*
* Historiadora da Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul e Mestre em História Social pela PUC/SP 

Embora com finalidades distintas das instituídas na época de sua fundação, em 2 de julho de 1950, a Sociedade Beneficente Brasil Unido continua em atividade no município de São Caetano do Sul, no Grande ABC paulista. Se hoje a entidade atua, prioritariamente, como uma associação recreativa, que coloca à disposição de seus sócios e demais interessados seu salão de festas para eventos e comemorações de datas especiais, no passado, suas ações consistiam, basicamente, na promoção de iniciativas de amparo ao migrante nordestino1.

Surgida no contexto dos intensos processos de urbanização e industrialização da cidade e região, a Brasil Unido foi fruto das articulações de um grupo formado, predominantemente, por nordestinos que usufruíam de uma boa situação socioeconômica em São Caetano. Bem integrados na sociedade local, tal grupo se firmou como uma referência para os migrantes que chegavam ao município sem condições mínimas de inserção social, em virtude, principalmente, de sua baixa ou nenhuma escolaridade, da falta de documentos e de dinheiro. A existência de todos esses problemas foi a tônica da criação e da atuação da entidade.

Alguns dias antes de sua fundação, o grupo que lançou a proposta do amparo aos nordestinos instalados em território sul-sancaetanense, divulgou, por meio de um panfleto distribuído na cidade, datado de 27 de junho de 1950, seus objetivos quanto à prestação de auxílios aos migrantes:

Caro conterrâneo: Desde que chegamos às plagas da Paulicéa, foi sempre a nossa maior preocupação patriótica proporcionar a todos os nortistas, que aqui residem ou venham em busca de trabalho, uma assistência moral e material. Daí nasceu a idéia de fundarmos um núcleo que, congregando-nos indistintamente, pudesse preencher as falhas, ainda existentes, que tantas dificuldades causam aos recém-chegados, principalmente (1950a)2.


A força da presença nordestina e os problemas de um município recém-criado: cenário propício à atuação da Brasil Unido

Com a divulgação de tal proposta, o primeiro passo havia sido dado. A ideia daquele grupo mentor, que era constituído por 13 nordestinos3, foi a semente que originaria a Sociedade Beneficente Brasil Unido. Assim, com a institucionalização da proposta de amparo, seria possível tomar providências mais articuladamente, visto que os problemas levados ao conhecimento da entidade passariam a ser tratados não de forma isolada, mas sim a partir de um aparato institucional que orientaria e agilizaria os procedimentos ou caminhos a serem seguidos na busca por medidas que pudessem resolvê-los ou, no mínimo, amenizá-los. A proposta de congregação nordestina encaminhada por aquele grupo, ao se converter na criação de uma entidade de amparo, evidencia a presença maciça de nordestinos nos quatro cantos de São Caetano do Sul e também a dimensão de suas necessidades e demandas.

O episódio do aparecimento de uma entidade como a Brasil Unido, por si só, já se põe como uma constatação plausível da força nordestina junto ao montante da população de São Caetano do Sul, naquele início dos anos 1950. Mesmo não tendo sido possível encontrar índices ou estatísticas que pudessem informar, de modo preciso, a porcentagem de moradores provenientes do Nordeste estabelecidos no município, registros que fazem referência ao assunto apontam que eles estavam em grande número na cidade. O jornalista e memorialista da região do Grande ABC, Ademir Medici, assegura que, em certos bairros do município, a presença nordestina se sobressaiu, como, por exemplo, no Bairro Nova Gerty, que, na sua concepção,

[...] representa a nova São Caetano e a síntese do processo migratório experimentado pela região do ABC, a partir da expansão industrial da era da produção de automóveis, da década de 1950 para cá. O bairro nasce migrante, com uma multiplicidade de loteamentos urbanos rasgados numa área que, em séculos passados, abrigou sítios e fazendas e que, a partir do final do século XIX, recebeu lotes coloniais destinados a imigrantes europeus (1993, p. 455).




O fato de o Bairro Nova Gerty ter concentrado grande número de nordestinos, assim como o Bairro São José, não significa que as demais regiões da cidade não tenham apresentado, entre os seus habitantes, grupos oriundos do Nordeste. Pelo contrário. Em matéria publicada na edição de 18 de dezembro de 1954 do Jornal de São Caetano, o médico Manoel Gutierrez Durán fez uma análise acerca do perfil dos atendidos pelo Pronto Socorro Municipal, cujas atividades tinham se iniciado há apenas três meses, quando da publicação da aludida matéria. As considerações feitas por ele apontam o quão maciça era a presença nordestina em São Caetano do Sul, na década de 1950:

Si São Paulo é a ‘cidade que mais cresce no mundo’, S. Caetano do Sul é o município de maior aumento vegetativo no Continente. Poucas cidades haverá, talvez, no Universo, que apresentem um crescimento demográfico de tal forma impressionante; não devido ao crescimento normal de sua população estável, mas, e principalmente, às levas imensas, de retirantes que, dia-a-dia, chegam ao ‘Príncipe dos Municípios’. Já o dissemos uma vez e o reafirmamos aqui: não há nada como um Pronto Socorro para se medir a intensidade dos movimentos sociais especialmente das camadas menos favorecidas. Em 3 meses de serviço: atendemos a mais de 1.800 consultas. Pois bem: cerca de 75% era gente do Nordeste. [...] O Pronto Socorro, algumas manhãs, nem parece uma repartição de S. Caetano do Sul – Estado de São Paulo – parece um Pronto Socorro de Garanhuns, Caruarú, Alagoa de Baiqo ou Palmeira dos Índios (1954, 1ª página).

A transformação de São Caetano numa cidade de perfil essencialmente industrial reforça a matéria acima, na medida em que explica a alta porcentagem de nordestinos. Para acompanhar o crescimento demográfico verificado durante a primeira metade do decênio de 1950, para o qual a chegada de novas levas de migrantes nordestinos contribuiu imensamente, os loteamentos antigos da cidade precisaram sofrer sucessivos retalhamentos até, pelos menos, o final da década de 1960. Em decorrência disso, houve um aumento da oferta de lotes populares, o que acabou facilitando a entrada de migrantes nordestinos em diversas áreas do município. Esse quadro respalda, assim, a afirmação do baiano Raimundo da Cunha Leite, um dos fundadores e antigos diretores da Brasil Unido, segundo a qual, aproximadamente 50% da comunidade de São Caetano do Sul era representada por seus conterrâneos, “em especial na nascente Vila Gerty”, no início da década de 1950 (2002, p. 53).

Reforçam ainda as estimativas todas as marcas e sinais deixados por esse povo no tecido urbano local, como, por exemplo, os resultantes de suas trajetórias e inserção no próprio mercado de trabalho de São Caetano. Na medida em que as dificuldades iam surgindo, no processo de instalação dos migrantes em seu novo espaço de moradia e vivências, a necessidade do amparo tornava-se mais latente. Esse quadro ficaria ainda mais problemático em face das conjunturas históricas vigentes na localidade, no início dos anos 1950. Problemas ligados à infraestrutura urbana e a outros aspectos básicos do viver na cidade, como os relativos aos segmentos da saúde pública e da assistência social, originariam um cenário propício à atuação da Sociedade Beneficente Brasil Unido.

Quando houve a sua criação, em 1950, São Caetano era apenas um recém-município, visto que sua autonomia política em relação a Santo André havia sido conquistada, por força do plebiscito de 24 de outubro de 1948, após intensa campanha junto à sociedade local. Por força dessa situação, a resolução de questões de infraestrutura urbana era o grande desafio que se impunha ao Poder Executivo local.

De acordo com os resultados do censo realizado em 1950, dos 65 municípios paulistas criados pela Lei nº 233, de 24 de dezembro de 1948, o de maior densidade demográfica era São Caetano do Sul, com 60.200 habitantes. Comparando-se com os números apresentados por municípios antigos e já tradicionais, como Araçatuba, Guaratinguetá, Pinhal, Lorena, Caçapava, dentre outros, São Caetano colocou-se à frente, com uma vantagem significativa (NUZZI FILHO, 1951, p. 3).

Com uma alta densidade demográfica, o município não tardaria a apresentar grande deficit em sua infraestrutura urbana, cujas demandas, muitas vezes, eram veiculadas em tom de denúncia e cobrança pela imprensa local. Os problemas mais comuns eram relativos à deficiente distribuição de água e energia elétrica, ao estado de abandono das vias públicas, dentre as quais muitas não tinham recebido sequer calçamento, e à precária situação da rede de esgoto.

No início de 1951, o Jornal de São Caetano, ao publicar matérias que revelavam esse estado de coisas, colocava-se na qualidade de porta-voz dos interesses sul-sancaetanenses. Em uma dessas matérias, em janeiro daquele ano, o articulista Theophilo de Souza Carvalho teceu críticas à Administração Pública Municipal, apontando os melhoramentos prioritários para a população. Suas considerações fornecem um panorama acerca da realidade do município, pouco mais de dois anos após sua emancipação política em relação a Santo André:

À medida que os dias correm, as necessidades locais começam a fazer ponto saliente na cidade e é mister, por isso, que os poderes públicos se movam no sentido de atender aos justos reclamos da população. [...] Muita gente acha que ainda é cêdo para termos tudo quanto é necessário à vida regular de um município como o nosso, onde quase tudo está ainda por fazer. Entretanto, há certos melhoramentos que estão na pauta da urgência para serem atacados. Isto sem falar na rêde de água e esgotos, no calçamento da cidade, no aumento da iluminação pública [...] Já tivemos em certa ocasião oportunidade de escrever alguns comentários a respeito da falta de defesa para a cidade. [...] defesa, também, contra os possíveis surtos de epidemias capazes de surgirem de uma hora para outra, em vista do estado pouco lisonjeiro em que se encontra a higiêne da cidade [...] (1951, última página).

A questão da higiene pública era, de fato, alarmante em São Caetano. A matéria Olhai os bairros, senhores, publicada na Folha do Povo, jornal cuja circulação era de uma abrangência maior, visto que circulava em Santo André, São Bernardo e na própria cidade de São Caetano, abordou o assunto, destacando três bairros do município em que o problema estava mais notório. Vale lembrar que dois deles, Vila Gerty e Vila São José, apresentavam, entre os seus moradores, um grande número de nordestinos:

“Os bairros proletários desta cidade poucos benefícios gozam dos poderes públicos. Para não citarmos todos, citemos Vila São José, Vila Gerti e Vila Barcelona. Esses bairros são lembrados apenas pelos políticos em vésperas de eleições, porque no demais, neles tudo são abandono e sujeira.” (TOLEDO, 1953, última página).

As más condições de higiene, aliadas ao incipiente serviço municipal de limpeza, deixavam os moradores de São Caetano, sobretudo os de baixa renda, expostos a doenças e a epidemias, o que era extremamente preocupante, uma vez que a cidade ainda não contava com serviços médico-hospitalares na época da publicação das duas matérias citadas acima. Somente em 1954 seria criada a Diretoria de Assistência Social e, com ela, a prestação de serviços médicos gratuitos aos munícipes.

Diante do que foi exposto, é possível ponderar que a realidade de São Caetano do Sul era propícia ao associativismo de cunho assistencial, como uma forma de suprir as lacunas que não tinham sido ainda preenchidas pela Administração Pública Municipal. Não foi à toa que o início da década de 1950 marcou o surgimento, na cidade, de entidades beneficentes, como a Associação de Proteção e Assistência à Maternidade e Infância (Apami) e o Rotary Club, além, é claro, da Brasil Unido.

Os problemas decorrentes da falta de estrutura urbana adquiriam uma dimensão ainda maior em relação ao migrante nordestino. As condições sob as quais este chegava à cidade já eram caóticas, e, quando estabelecido, ele acabava enfrentando inúmeros outros obstáculos, como os relativos às dificuldades para obtenção de emprego, por conta de sua baixa ou nenhuma escolaridade. Tal situação, reforçada também pelo fato de, muitas vezes, o migrante não apresentar os documentos imprescindíveis ao ingresso nas empresas, desencadeava outros problemas, como um círculo vicioso: desemprego, falta de dinheiro e comprometimento das condições de vida, como má alimentação e saúde debilitada. E para agravar, a esta somava-se a ausência de assistência médica gratuita na cidade, pelo menos até 1954.

Raimundo da Cunha Leite, mais uma vez, fornece um relato precioso. Ao recordar a situação dos nordestinos recém-chegados a São Caetano do Sul, expõe, taxativamente: “Faltava-lhes tudo, desde documentos a um lugar para se abrigar, terminando, via de regra, embaixo dos viadutos” (2002, p. 55). Essa questão, aliada à do quadro conjuntural do município, torna compreensível o surgimento da Sociedade Beneficente Brasil Unido. A conjugação de todos esses fatores deu origem a um cenário propício à sua atuação. Os meios que pautariam suas iniciativas ganhariam sentido em face das conjunturas históricas, que, assim, funcionariam como elementos ressonantes da atuação da entidade.

Mutualismo e filantropia: as duas faces do amparo promovido pela entidade

Diante das muitas carências, as associações beneficentes, por meio de suas ações, buscavam prestar auxílio, principalmente de natureza material, à parcela da população que mais se ressentia da falta de infraestrutura urbana e de serviços na localidade.

Com a Brasil Unido não foi diferente. Sua finalidade precípua consistia no amparo ao migrante nordestino. E este não precisava ser associado à entidade para receber auxílios. Os benefícios prestados aos não associados configuravam práticas filantrópicas, as quais, conforme Ronaldo Pereira de Jesus, “[...] visavam oferecer socorro aos necessitados sem que da parte destes houvesse contrapartida financeira” (2007, sem paginação).

Na concepção de Cláudia Maria Ribeiro Viscardi, a relação social decorrente da filantropia “tende a ter um trajeto verticalizado, no qual o doador estabelece com o receptor uma hierarquia, cujo tom, à revelia das intenções ou motivações, será o do poder de quem doa sobre quem recebe. Nessa situação, o receptor se encontrará submetido ao doador, mesmo que este último não se utilize da relação em seu próprio proveito.” [2009, p. 293]

Por outro lado, nas práticas mutualistas, observava-se a tal da contrapartida financeira, garantidora de benefícios resultantes de situações adversas, como nos casos de desemprego, doença ou morte. As ações dessa natureza pressupõem “relações de reciprocidade que tendem a ser mais balanceadas. Todos contribuem e todos recebem a contribuição. Realçam o ethos da obrigação mútua e a responsabilidade coletiva pelo bem-estar dos outros. Nesse contexto as relações tendem a ser mais horizontalizadas, e as hierarquias, menos definidas. A dependência persiste, mas assume um caráter mútuo” (VISCARDI, 2009, p. 293).

Vale notar que, se as iniciativas de cunho filantrópico da Brasil Unido destinavam-se a migrantes não associados a ela, as de caráter mutualista estavam voltadas aos membros de seu quadro associativo. Embora a cúpula dirigente da entidade tenha atribuído duas orientações distintas à promoção do amparo, tanto a filantropia quanto o mutualismo foram as vias eleitas para o enfrentamento das conjunturas históricas. Ambas podem, nesse sentido, ser concebidas como estratégias de sobrevivência e de fortalecimento do grupo que presidiu os trabalhos iniciais da Brasil Unido. Para Michel de Certeau,

A estratégia postula um lugar suscetível de ser circunscrito como algo próprio e ser a base de onde se podem gerir as relações com uma exterioridade de alvos ou ameaças (os clientes ou os concorrentes, os inimigos, o campo em torno da cidade, os objetivos e objetos da pesquisa etc.). Como na administração de empresas, toda racionalização ‘estratégica’ procura em primeiro lugar distinguir de um ‘ambiente’ um ‘próprio’, isto é, o lugar do querer e do poder próprios (1994, p. 99).

Partindo dessas ponderações, a Sociedade Beneficente Brasil Unido pode ser concebida como o lugar por meio do qual os seus dirigentes instituíram e articularam, estrategicamente, ações mutualistas e filantrópicas, tendo em vista uma exterioridade, representada, no caso, pela sociedade de São Caetano do Sul.

Apesar das distintas circunstâncias, contextos e cenários históricos em que apareceram e atuaram, as associações de mútuo socorro eram pautadas por iniciativas que visavam, primordialmente, à concessão de amparo e proteção aos seus afiliados. Em vista disso, o associativismo praticado e fomentado sob a bandeira do mutualismo pode ser interpretado e compreendido enquanto um sinalizador de adversidades e problemas verificados em um determinado tempo e espaço. Os obstáculos encontrados por um grupo ou categoria social, em seu correspondente raio, segmento ou âmbito de relações, foram a mola propulsora do mutualismo, a sua razão de ser.

O quadro conjuntural adverso de São Caetano do Sul contribuiu para a instituição de uma orientação mutualista, por parte da Brasil Unido, na promoção do amparo ao migrante. Embora a referida orientação tenha sido implantada em um momento considerado pelos estudiosos do assunto como sendo de recuo e esvaziamento das entidades mutuais, em razão da vigência de um Estado gerenciador de uma política previdenciária voltada para a seguridade social, a permanência de práticas mutualistas era de extrema importância, ainda mais se levadas em conta as constantes denúncias relativas à inoperância e ineficiência daquela política. Somadas a isso, se encontram as questões não só de caráter material, mas também as de fundo humano e moral, dentre elas, as ligadas à disseminação de práticas preconceituosas contra os nordestinos.

Diante dessa convergência conjuntural, torna-se compreensível e justificável a instituição, por parte dos primeiros dirigentes da Brasil Unido, do seguinte objetivo, expresso pelo item 3º do artigo 1º de seus estatutos: “Auxiliar, moral e materialmente, os seus associados” (1950, p. 1). Entre as motivações dos auxílios morais proporcionados pela entidade, estava o preconceito sofrido pelos migrantes.

Conforme endossa o baiano Cunha Leite, os nordestinos instalados na cidade “defrontaram-se com situações constrangedoras. Falta de moradia e dificuldades na obtenção de emprego foram alguns dos problemas, não apenas pela baixa qualificação, mas também devido ao preconceito. Tudo isso levava aquela gente a um verdadeiro estado de miserabilidade” (2000, p. 68).

Se, por um lado, o amparo moral era deflagrado pela observância de questões atreladas à existência de preconceito em relação aos nordestinos, o amparo material fazia-se necessário frente a situações de doença de sócios da entidade e de morte destes. Nos casos de doença, a Brasil Unido reservava ao seu associado o direito de receber, semanalmente, uma pensão e uma visita médica, desde que ele se encontrasse impossibilitado de trabalhar a juízo de médico da Sociedade. Dentre os registros de práticas mutualistas lançados no Livro de Beneficências da entidade, entre os anos de 1951 e 1954, a maior parte deles refere-se a auxílios monetários por doença, conforme o destacado abaixo:

“São Caetano do Sul, 30 de Janeiro de 1952.
Nesta data, a Sociedade Beneficente Brasil Unido, prestou auxílio ao seu socio João Belarmino de Souza, ordenando e pagando uma visita medica feita pelo Dr. Oseas Fialho, de acordo com o artigo 9, itens 1 e 2  dos seus Estatutos” (1952, p. 11; 1950b, p. 3-4).

Quanto aos casos de morte de membros de seu quadro associativo, a Brasil Unido garantia aos seus familiares o recebimento do auxílio funeral, previsto pelo artigo 17 da primeira versão de seu regimento estatutário, e também a instituição de pecúlio, nos termos do artigo 18 de tal regimento. Preceituava ele que só recebia o referido benefício o sócio admitido acima de 90 dias pela entidade. O valor do pecúlio era fixado de acordo com o número de sócios existentes. A eles cabia o pagamento de um sinistro na importância de Cr$ 10,00 (dez cruzeiros) por óbito ocorrido. O prazo estabelecido para tal era de 30 dias, a contar da data do falecimento do associado, de acordo com o que dispunha o artigo 19 dos estatutos da Brasil Unido (1950, p. 6-7).

Além dos benefícios destacados acima, os quais eram tradicionalmente assegurados pelas associações de mútuo socorro, de uma forma geral, outros foram ainda concedidos pela Brasil Unido, firmando-se como garantias peculiares ao mutualismo praticado por ela, como, por exemplo, as concessões de empréstimos financeiros e o encaminhamento de cartas de referência a empresas da região para sócios que buscavam colocação no mercado de trabalho.

No que concerne à filantropia, a outra face do amparo proposto pela Sociedade Brasil Unido, cumpre salientar que ela também ganha sentido em face das conjunturas e condições históricas verificadas no município de São Caetano do Sul. Como ocorria com as práticas mutualistas, as relações desencadeadas pelas iniciativas filantrópicas também evidenciavam as diferenças existentes entre os dirigentes e os migrantes nordestinos recém-chegados à cidade. Contudo, tais diferenças não eram motivadas e alimentadas pelo vínculo associativo que unia os sócios da Brasil Unido em torno de sua cúpula. No caso da filantropia, o amparo não dependia de uma ligação formal ou oficial do migrante com a entidade. Portanto, os benefícios destinavam-se a ele diretamente, sem a mediação das garantias advindas do associativismo, as quais, para serem usufruídas, exigiam o pagamento de mensalidades por parte dos membros da entidade. Em outras palavras, os destinatários de suas práticas filantrópicas não precisavam dispor de nenhuma quantia para o usufruto delas.

Embora a execução da filantropia não estivesse inserida nas formalidades típicas do associativismo, os mecanismos de poder que ela compreendia eram tão incisivos quanto os inerentes ao mutualismo, pois também eles atuavam no sentido do reforço do status e das diferenças entre os que doavam e os que recebiam.

As práticas filantrópicas da Brasil Unido são indicativas da realidade dos migrantes nordestinos, a qual, em razão de ser revestida por problemas, dificuldades, carências e precariedades, já os colocava numa situação de adesão frente às ações dos dirigentes da entidade. Estes, por força de uma condição socioeconômica favorável, apresentavam-se em plenas condições não só de comandar os rumos da associação, mas também de gerir a distribuição da filantropia.

O gerenciamento das práticas filantrópicas fazia emergir dois mundos bastante distintos: o dos membros da direção da Brasil Unido, dotado de projeção social e material, e o dos recém-chegados do Nordeste, desprovidos das condições mínimas necessárias à sua inserção na sociedade de São Caetano, quer pela ausência de dinheiro e emprego, quer por motivo de doença e por falta de grau formal de instrução desses migrantes. A lógica inerente a tais situações tão díspares explica a adesão dos migrantes em relação às ações filantrópicas provenientes da Brasil Unido, ao mesmo tempo em que evidencia as vantagens, em termos políticos e sociais, que podiam ser auferidas pelos integrantes de sua cúpula, enquanto promotores de atos caritativos e beneficentes.

A dura realidade na qual estava imerso o migrante nordestino era a polarizadora da face filantrópica da associação. Dessa forma, suas iniciativas de cunho filantrópico eram norteadas pelos problemas e mazelas que afetavam, comumente, aquele migrante, em seu cotidiano, em São Caetano. As ações que se constituíram na marca registrada da filantropia promovida pela entidade eram traduzidas, predominantemente, pelas concessões de abrigo, alimentação e auxílios monetários, além das providências tomadas no sentido da obtenção de documentos, emprego e tratamentos médicos para os seus migrantes amparados.

Para concretizar, efetivamente, todas essas ações, a Brasil Unido recorria à sua rede de contatos e relacionamentos, da qual faziam parte pessoas físicas e jurídicas. Dentre estas últimas, estavam instituições de referência local, como clubes recreativos e esportivos e entidades culturais e beneficentes, além das de abrangência nacional, como o Serviço Social da Indústria (Sesi), patrocinador dos cursos de alfabetização de adultos e de corte costura oferecidos, gratuitamente, pela Brasil Unido, a partir de 1951.

Por força de tudo o que a Sociedade Beneficente Brasil Unido defendeu, incorporou e propagou, ela se torna emblemática da própria história da presença nordestina no município de São Caetano do Sul. Neste artigo, foram apresentados somente alguns dos principais aspectos de sua política de amparo. Outras questões que também marcaram a atuação da entidade poderão, em outra ocasião, ser discutidos, de modo a possibilitar ao público a continuidade do acesso aos demais capítulos da história da Sociedade Beneficente Brasil Unido, ponto de partida para a compreensão das próprias especificidades que envolveram os processos de deslocamento e instalação de migrantes nordestinos em solo sul-sancaetanense.

Notas
1 - O presente artigo é parte integrante das discussões realizadas na dissertação de mestrado Migrantes amparados: a atuação da Sociedade Beneficente Brasil Unido junto a nordestinos em São Caetano do Sul (1950-1965), defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), no dia 17 de maio de 2012.
2 - Nas transcrições mantivemos a grafia original.
3 - Jorge de Souza Muniz Ferreira, Humberto Fernando Forte, Oséas Fialho, Arthur Estrella de Souza, Francisco Afonso Carvalho, Orlando Souza, Antônio Pereira Pontes, Aprígio Bernardino de Salles, Pedro Hermenegildo, Bernardino Borges de Salles, José Bernardino Cunha, Everaldino Alves de Carvalho e Caio Estrella de Souza.

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