Para você que já veio ou para você que irá visitar as mostras, uma boa leitura e uma boa reflexão!
Temos o privilégio de
abrigar na Pinacoteca Municipal de São Caetano do Sul duas mostras que nos dão
a oportunidade de fazer um contraponto bastante instigante. Na sala
especial temos Diálogos com obras de
Flávio Abuhab e no salão maior, quase uma retrospectiva do artista Inos Corradin,
com a exposição Universo Lúdico de Inos
Corradin.
Abuhab, conciso,
cerebral, claro e conceitual. Suas inquietações e propostas são realizadas
depois de pesquisas em seu próprio repertório de estudos e formação. Ideias de
seu laboratório de imagens e registros próprios.
Este artista trabalha
em sintonia com o seu entorno e com seu tempo; em sua obra não há figuração no
sentido de representações conhecidas, se estão ali não são mais o que
representam. Utiliza fotografias não como registro e sim como suporte, que
submetem-se a intangibilidade da ideia. Primeiro, a ideação, depois, o
material, a forma, a cor, como resultado e não como ponto de partida.
Simultaneamente e sob o mesmo teto, mas na sala maior,
um artista que, tanto pelo seu percurso como pelo seu repertório, desenvolveu
um trabalho bem diverso de Abuhab.
Inos bebeu em outras
fontes e buscou outros caminhos. A figuração nunca o abandonou, quando quase
escorregou para a abstração, o chiaroscuro, a velatura e a relação figura-fundo
permaneceram. Aprimorou sua técnica em função das figuras e seu contato com as
linguagens artísticas aconteceu sem intermediações e sem teorias. Inos se
aprisionou na profissão de artista, tem os pés no chão. Flávio é artista sendo
professor, estudando e ensinando arte, flutua no tempo presente.
Flávio, um artista
ligado à universidade, estudioso, um acadêmico, não no sentido de quem produz,
mas de quem ensina arte, faz exatamente desse elenco de conhecimentos,
pesquisas e elaborações a sua obra, por vezes clara e exata, por vezes
hermética e fechada. Inos é o artista que saiu em busca da valorização do
mercado, mantendo propostas e modelando, em épocas diversas, sua experiência
estética única.
Se Flávio pode provocar
certo desconforto intelectual e emotivo devido ao inusitado quando desloca o
objeto sem deixar ao observador nenhuma referência, Inos também vai provocar
estranhamento com a deformação das figuras, do fantástico e do maneirismo
recorrente.
Flávio Abuhab, um
artista para o qual podemos usar a frase de Nicolas Bourriaud: “Ao invés desse ajoelhar diante das obras
do passado, usá-las”. Ou ainda como nos diz Anne Moeglin-Delacroix: “Para os artistas conceituais, são as
informações, textos, fotografias, fotocópias, esquemas, que documentam não
tanto um objeto ou ação in absentia, mas a ideia, por natureza invisível”.
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